Brinquedo Popular Brasileiro

 

Sobre a curadoria

 

Uma inevitável pergunta se coloca diante da proposta de montar uma exposição com 2.000 brinquedos populares: como organizar essa enorme variedade de temas, materiais, dimensões, finalidades, estilos, origens, etc.?

Há os brinquedos de meninos, os de meninas e aqueles para os quais o gênero é indiferente.

Há os de madeira, de pano, de metal, de arame, de barro, de sementes, de fios, de cabaça, de pedra, de areia, de palha, de couro, de jornal, de papelão, de sisal, de borracha, de materiais mistos e etc.

Há os que se originam nas cinco regiões e os de quase todos os estados do Brasil. Há os rústicos, os bem acabados, os simples, os complexos, e os que alcançam o patamar de obras de arte. Há os que medem 2,50m, os de 7cm e, entre eles, os de todas as dimensões possíveis. Há os imóveis e os cinéticos. Há os que foram feitos para brincar, os para jogar a dois ou em grupo, os desafios individuais e há os que são mais para olhar. Há os que se deslocam sobre rodas, sobre trilhos, sobre as águas e os voadores. Há os bichos, as bonecas e as casinhas. Há os de puxar com cordinhas, os de empurrar com cabos e os de cavalgar. Há os de brincar de teatrinho, de parquinho, de circo, os que nascem no sonho e na imaginação e os de sentir medo. Há uma diversidade sem fim.

Diante deste vasto universo, o primeiro pensamento foi o de não organizar: tratar a exposição como uma criança que tem os seus brinquedos dentro de um baú e, na hora de brincar, os espalha todos no chão. Por mais lúdico que isso possa ser, imediatamente nos chegou a percepção do caos. Uma coleção de brinquedos populares apresentada dessa maneira, não duraria dois dias.

Pensamos então em organizar por regiões do Brasil. Este método, além de ser um tanto esquemático, faria com que algumas regiões, riquíssimas na produção de brinquedos populares, como a Região Nordeste e a Região Norte, ocupassem a maior parte do espaço disponível, enquanto que as outras, de produção bem mais escassa, especialmente a Região Sul e a Região Centro-Oeste, ficariam circunscritas ao mínimo. Se fosse por estados, pior ainda: além de ficar parecido com uma feira beneficente, traria discrepâncias maiores ainda em se tratando da ocupação do espaço.

Examinamos então a possibilidade de uma divisão por matérias primas: de um lado, tudo o que é feito de madeira, de outro, as bonecas e tudo mais que é feito de pano, e assim sucessivamente com todos os materiais. Nada poderia ser mais esquemático.

Passamos então a cogitar numa organização pelas matrizes-fonte das quais se originam os brinquedos populares: de um lado, todos aqueles mais básicos, produzidos por artesãos em pequenas linhas de produção (piões, ioiôs, petecas, menés-gostosos, bonequinhas e mobília em série, etc.); de outro lado, aqueles feitos por parentes, amigos, vizinhos ou pelas próprias crianças que serão as usuárias finais dos brinquedos. De um terceiro lado, colocaríamos aqueles feitos por artistas populares que, com seu talento e maestria, imprimem a sua marca criativa pessoal em cada um dos brinquedos que produzem. Pela beleza, originalidade e encantamento, essa forma de expor, provavelmente, provocaria um verdadeiro congestionamento de público nas áreas destinadas aos artistas populares.

Finalmente chegamos a uma definição da curadoria baseada nas seguintes categorias:

o mundo real;
o mundo dos sonhos, da imaginação e da fantasia;
o mundo dos espetáculos;
o mundo dos seres "assustadores";
os jogos, desafios e curiosos;
o mundo dos reciclados;
e as representações do universo lúdico infantil, realizadas pelas mãos de reconhecidos artistas populares.

Esta forma de organização, nos pareceu dinâmica, pertinente e, além disso, tira partido da segmentação do espaço expositivo do andar térreo do Museu de Arte da Bahia, onde foi montada a exposição.

David Glat

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